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Cuidados Paliativos e a Eutanásia do Cão: como lidar com o momento e outras respostas

Cuidados Paliativos e a Eutanásia do Cão: como lidar com o momento e outras respostas

É dos temas mais delicados da Medicina Veterinária, mas precisamos falar sobre a eutanásia em cães. São muitas as questões que se colocam e com este artigo queremos partilhar e esclarecer as dúvidas que nos chegam, através dos nossos tutores.

Longe vai o tempo em que os animais de estimação eram apenas cães de guarda. Hoje são família e dizer o último adeus a um familiar custa muito. Este ato de amor que se revela doloroso é, também, por vezes, a decisão mais gentil e humana que podemos tomar, ainda que nos doa o coração.

A eutanásia canina é uma decisão difícil e complexa e por isso as decisões relacionadas devem ser tomadas num diálogo aberto entre tutor e médico veterinário. 

Se tem dúvidas sobre se chegou o momento de eutanasiar o seu cão, continue a ler o nosso artigo. Iremos abordar os seguintes pontos:

  • A importância dos cuidados paliativos caninos;

  • Os sinais a ter em atenção na hora de tomar uma decisão sobre a eutanásia do cão;

  • As perguntas mais frequentes sobre a eutanásia em cães.

Por que razão os cuidados paliativos são importantes para os cães?

A partir do momento em que trazemos um cão para casa, as idas ao veterinário passam a integrar uma rotina de cuidados que ajudam a manter a sua saúde e bem-estar. 

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Vacinas, exames anuais, tosquia e banhos, consultas veterinárias contribuem para aumentar a longevidade e qualidade de vida dos nossos amigos de quatro patas. Mas chega uma altura em que a cauda deixa de abanar como antes, o animal desanima, para de comer e, infelizmente, as prescrições terapêuticas revelam-se insuficientes para devolver saúde a um corpo que se revela cansado e doente.

 

“O que fazer nesta altura?”

O tutor do animal deve procurar aconselhamento veterinário. E em muitos casos, os cuidados paliativos são recomendados para:

  • dar o máximo de conforto ao cão;

  • minimizar o sofrimento;

  • promover as condições de bem-estar.

Os cuidados paliativos nos cães têm como objetivo proporcionar mais conforto perante uma doença grave e muitas vezes incapacitante ou limitante, como é o caso, por exemplo, das neoplasias malignas ou da leishmaniose canina. 

Estes cuidados pautam-se pela aplicação de um conjunto de terapêuticas que minimizam a dor e aumentam o conforto, seja através de medicação analgésica, terapias de reabilitação veterinária ou terapias alternativas.

Os cuidados paliativos servem também para monitorizar o bem-estar do animal. Para isso, os profissionais medem a sua qualidade de vida, através de uma observação cuidada, com o objetivo de perceber quando é que a dor está a pesar mais que o bem-estar. 

Para o tutor pode ser muito difícil detetar este “momento” mas, com a ajuda do médico veterinário, será mais fácil perceber se é chegada a hora da despedida. Aliás, o apoio ao tutor é outra das vertentes dos cuidados paliativos. 

Os médicos veterinários sabem o quão duro pode ser o processo de eutanásia do cão e por isso mesmo procuram esclarecer dúvidas, acompanhar e apoiar os tutores, preparando-os para este momento.

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São muitos os sinais a considerar antes da eutanásia do cão

 

Quais os sinais a considerar na hora de tomar uma decisão sobre a eutanásia do cão?

A eutanásia é a forma humana de interromper o sofrimento do animal na ausência de um tratamento disponível e eficaz ou quando os tratamentos já não surtem efeito. Por norma, é recomendada nos casos de doença crónica ou irreversível, que envolvem condições clínicas dolorosas contra as quais os cuidados paliativos já pouco (ou nada) fazem.

A eutanásia do cão e de outros animais tem sempre como objetivo por fim ao seu sofrimento, de acordo com o Código Deontológico dos Médicos Veterinários.

 

“Como vou saber quando é o momento de falar sobre a eutanásia do cão em voz alta?”

A eutanásia do cão deve ser considerada quando os cuidados paliativos começam a revelar-se insuficientes e o sofrimento passa a ser a regra, em vez de ser a exceção. Na sua análise, o tutor deve ter em consideração:

  • O dia a dia do cão;

  • O declínio das suas capacidades:

    • Mobilidade: O animal consegue mexer-se sem acusar dor?

    • Apetite: O cão come ou mostra apetite?

    • Respiração: Geme ou chora?

    • Hábitos de higiene: Lambe-se e faz as necessidades no sítio adequado?

    • Capacidade mental: O animal responde aos estímulos?

  • Perda da qualidade de vida como resposta aos tratamentos paliativos:

    • O animal melhora depois dos cuidados paliativos? 

    • Os dias maus são em maior número que os dias bons?

 

Para facilitar esta tomada de decisão, existe o intitulado “esquema objetivo de Karnovsky’s” que classifica os vários estádios de uma doença e que pode ser aplicado nos animais de estimação:

  • Normal: 100% de atividade semelhante aos estádios anteriores à doença;

  • Restrito: atividade inferior ao estádio anterior à doença, mas ainda aceitável;

  • Comprometido: atividade muito limitada, o cão está em casa, alimenta-se, mas faz as necessidades em áreas inadequadas;

  • Inválido: o animal não consegue alimentar-se sozinho e continua a fazer a evacuação em locais inadequados;

  • Sem vida.

A partir do estado de “Comprometido”, estamos perante um cão com uma enorme perda de qualidade de vida e, aqui chegados, a reflexão sobre a eutanásia do cão deve ser abordada de uma forma mais profunda.

Quando o animal de estimação deixa de desfrutar das atividades normais do dia a dia e começa a ser visível que sente mais dor do que alegria, aconselhamos que o tutor fale com o veterinário sobre a eutanásia do cão.

Lembre-se sempre que a decisão de eutanasiar o seu cão não deve ser solitária. É natural querer evitar o tema, mas é mesmo muito importante dialogar sobre o que sente, as suas dúvidas e medos. Aconselhe-se com um médico veterinário e partilhe a sua visão sobre o assunto.

O médico veterinário é a pessoa que melhor poderá ajudar a garantir o conforto do seu animal de estimação, sem descurar o bem-estar do tutor.

É também muito importante que respeite o seu tempo e que envolva os outros elementos da família que convivem com o cão, incluindo os mais novos. 

Vai surpreender-se pela positiva com a capacidade das crianças em lidar com assuntos difíceis quando os mesmos são abordados sem rodeios e de forma clara e honesta. Se os mais pequenos forem bem preparados, irão conseguir aceitar melhor a partida do seu animal de estimação.

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Veja as respostas para as perguntas mais frequentes sobre a eutanásia do cão

 

As perguntas mais frequentes sobre a eutanásia do cão

Caso esteja a passar pelo difícil momento de tomar uma decisão sobre a eutanásia do seu cão, partilhamos consigo as perguntas que os nossos tutores mais nos fazem. Com esta partilha, queremos que as nossas respostas ajudem a dissipar dúvidas e os sentimentos de insegurança e medo que são normais nesta fase.

O cão sofre com a eutanásia?

A eutanásia do cão é indolor, sendo realizada pelo Médico Veterinário, através de uma injeção. 

Por isso mesmo é que o procedimento da eutanásia canina também é conhecido como “por o cão a dormir’. É a tranquilidade de uma sesta que o Médico Veterinário procura providenciar ao seu fiel amigo. Um descanso sereno, sem dor e sofrimento.

Quanto tempo demora a eutanásia canina?

O procedimento da eutanásia canina é relativamente rápido. Da injeção ao sono profundo, são breves momentos. No entanto, os seus efeitos são irreversíveis, pelo que deve ser uma decisão ponderada e em sintonia com o médico veterinário.

Onde é feita a eutanásia do cão?

A eutanásia do cão pode ser feita no Hospital Veterinário ou na casa onde o animal vive, junto dos seus tutores. Para muitos tutores, a eutanásia do cão ao domicílio é a forma mais natural de dizer adeus. Além de evitar deslocações desnecessárias que podem causar ainda mais desconforto a um animal que já está em sofrimento, a eutanásia em casa permite que o cão esteja no seu ambiente, no espaço que é seu e, por isso mesmo, mais tranquilo.

Quem toma a última decisão sobre a eutanásia canina?

A decisão final sobre a eutanásia do cão cabe sempre ao tutor. No entanto, o Médico Veterinário só aceita essa decisão se ela estiver em conformidade com os seus princípios éticos. Quer isto dizer que tem sempre de haver duas partes concordantes sobre este tema.

O que acontece após a eutanásia?

O sentimento de perda após a eutanásia do cão é devastador e cada tutor tem a sua forma de lidar com o luto. Acolha os seus sentimentos e fale sobre a sua dor. 

Outras formas de lidar com a perda do seu animal de estimação podem passar por:

  • Criar um memorial através de uma placa no jardim ou fotos na parede;

  • Fazer doações para associações de proteção animal como forma de homenagear o seu amigo. 

Se tiver outros animais de estimação na família, pode aperceber-se que o seu comportamento se alterou – eles podem procurar pelo cão, choramingar e, por vezes, animais submissos tornam-se dominantes perante a perda de um companheiro. 

Converse com o médico veterinário sobre possíveis alterações de comportamento e continue a  dar-lhes amor, carinho e atenção para, que aos poucos, também eles ultrapassem o luto. 

 

Seja qual for a sua decisão, informe-se junto do seu médico veterinário para que a eutanásia canina seja uma decisão consciente que honre a sua relação de amizade e de profundo afeto com o seu animal de estimação. Afinal, ele será sempre o seu melhor amigo. 

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